Por que Luís leva acento, mas Luiz não?

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Dá uma ‘luis’ pra gente

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Luís e Luiz são dois nomes superpopulares no Brasil. Dos mais de 130 mil (!) nomes brasileiros, Luís, com S, foi o 13º mais popular no Censo Demográfico de 2010 do IBGE e Luiz, com Z, ficou na 11ª posição.

Muito dessa popularidade se deve à facilidade em se formar nomes duplos com Luís/Luiz: Luiz Henrique, Luiz Felipe, Luiz Carlos, Luiz Guilherme, Luiz Augusto, Luiz Antônio e por aí vai… Tem até as novidades Luiz Gael, Luiz Yago e Luiz Noah.

Apesar de serem homófonos (palavras de pronúncia igual), Luiz e Luís têm grafias diferentes e uma história ortográfica interessantíssima. Olha só!

Tudo começou na Europa, por volta do século VI a.C., quando imperava a língua protogermânica onde hoje é Alemanha, Dinamarca, Noruega, Países Baixos e Suécia. Os etimólogos concluíram que já havia o nome masculino Hlūdawīg, vindo de ‘Hlūd’ (famoso) e ‘wīg’ (batalha). Era, então, o ‘guerreiro famoso’.

De Hlūdawīg, derivou-se ‘Ludwig’ em alemão, famoso como prenome do compositor Ludwig van Beethoven. Em latim, Hlūdawīg ficou de duas formas, como Clodovicus e Ludovicus. Do primeiro, temos hoje Clóvis e Clodovil; do segundo, Ludovico.

Naquela bagunça fonológica que era o francês arcaico do século VIII, Ludovicus foi sendo alterado mais ou menos assim: Ludovicus → Ludoicus → Lodoic → Lodois → Looïs → Loïs → Louis.

Esse nome ficou muito famoso dezoito reis franceses foram assim batizados. Começou com o filho de Carlos Magno, Louis le Pieux (Luís I ou Luís, o Piedoso), rei de 814 a 840.

Luís IX, que reinou de 1226 a 1270, morreu numa das Cruzadas ao Oriente Médio. A Igreja católica o canonizou 27 anos depois, tornando-o São Luís. A partir daí, o nome caiu nas graças de toda a península Ibérica. (É dele que vem o nome da capital do Maranhão.)



Outro Luís importante foi Luís XIV, cujo reinado foi o mais longo da França, de 1643 a 1715 (72 anos). Sendo o maior dos absolutistas franceses, era chamado de Rei Sol 😎. Durante seu governo, a França conheceu o período de maior poderio militar, prosperidade econômica, progresso científico e excelência artística. Então, o nome Luís estava com tudo, inclusive em Portugal e suas colônias.

O problema é que, até o início do século XX, a língua portuguesa não contava com normas ortográficas oficiais. Até então, cada um escrevia como bem queria e as grafias duplas conviviam bem. Havia quem escrevesse ‘Brasil’ e quem preferisse ‘Brazil’; ‘paiz’ ou ‘pais’; ‘através’ ou ‘atravez’, ‘juís’ ou ‘juiz’, ‘português’ ou ‘portuguez’. Essa duplicidade se refletia, claro, também nos nomes e sobrenomes como Thomás/Thomaz e Queirós/Queiroz. Nisso, escolher entre Luís e Luiz dependia só do gosto dos pais da criança.

A liberdade da escrita seguia assim até que Portugal normalizou e simplificou a escrita portuguesa com sua Reforma Ortográfica de 1911. Foi ali que Luiz, com Z, quase sumiu de Portugal.

No documento da Reforma, constava que todo som /s/ no final de sílaba deveria ser escrito com S se assim originalmente fosse em latim (regra 62 do Prontuário Ortográfico). Então, se lá atrás contávamos com Ludovicus, o correto seria Luis.

A mesma Reforma determinava que hiatos com I ou U no final precisam de acento agudo: saúde, caí, saída, tatuí, país, baús, cafeína. Então, assim como Laís e Thaís, Luís tinha de levar acento. Então, tá… 🤷‍♂️ Lá também constava que o acento era desnecessário se a consoante que se seguisse ao hiato fosse diferente de S e não formasse sílaba. Assim, Luiz dispensa o acento.

Em 1943, o Brasil aprovou o seu Formulário Ortográfico, vindo a se consolidar no Acordo Ortográfico de 1945 junto a Portugal. As regras, muito parecidas àquelas de 1911, detalham que os hiatos terminados em I e U tônicos não levam acento quando:

✅ seguido de NH: rainha, campainha, coroinha, moinho, fuinha.

✅ seguido de L, M, N, R ou Z que não formam sílaba: adail, Raul, Caim, ruim; amendoins, Nain; Jair, ruir; raiz, juiz.

Um detalhe importante está em “que não formam sílaba”. Veja como estas palavras acabam ganhando acento em suas derivações: juiz → juízes, juíza; raiz → raízes; ruir → ruíram. Então, tanto Luísa como Luíza precisam também de acento agudo.

O Acordo de 1945, no entanto, deixou explícito que os nomes de pessoas estão sujeitos às mesmas regras dos substantivos comuns, mas que o direito individual de escolher a grafia do nome fica salvaguardado (exceto em Portugal, onde há uma lista de nomes registráveis 😬). Então, Luís e Luiz estão corretos; Luis e Luíz também estão corretos, mas não são recomendáveis segundo a Ortografia. – e podem ir se preparando para a soletração, pois os Luyz, Lwis, Lluís e até Luiys já estão entre nós.

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Fonte: Nomes Científicos. Em https://www.facebook.com/NomesCientificos
Referência: ‘An Etymological Dictionary of the French Language’, por Auguste Brachet (1873).


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